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O bolero e outras danças de sucesso durante o século XX

A propósito do bolero e sua controvertida origem, deve-se registrar que não há um consenso entre os diversos autores. Alguns apontam Sebastián Zerezo, em 1780, como o inventor da dança, baseado nas seguidillas: bailados típicos das ciganas da região de Andaluzia, na Espanha, as quais usavam longos vestidos ornados com pequenas bolas penduradas – as boleras. Outros especialistas acreditam que ele vem do fandango, dança também da Andaluzia, mas de procedência árabe. Há pesquisadores que afirmam, por sua vez, que o bolero que conhecemos nos dias de hoje nada tem em comum com aquele nascido na Espanha e que ele surgiu em Cuba, a partir de uma dança mais antiga chamada danzon, nas últimas décadas do século passado. Observe-se, entretanto, que o danzon, criado por volta de 1843, tem origem andaluza e africana, segundo o pesquisador Luis Ellmerich, o que nos leva, de novo, à hipótese da origem espanhola com fortes contribuições de ritmos africanos.

Seja qual for a explicação mais correta, o fato é que o bolero dançado nos bailes cariocas da atualidade guarda poucas semelhanças com sua forma original, uma vez que incorporou muitas figuras e movimentos emprestados de outras danças, além das modificações decorrentes da própria criatividade dos dançarinos.

Deve-se ressaltar que as danças de salão constituem uma forma de expressão altamente dinâmica, sofrendo rápidas e constantes transformações segundo o gosto e a capacidade inventiva de seus praticantes. Esta é uma das principais facetas da dança de caráter recreativo, uma vez que o fator espontaneidade do dançarino se faz fortemente presente. Isto a torna diferente da dança codificada com vistas às competições esportivas, onde o domínio da técnica é essencial e há pouco espaço para inovações. São duas opções e uma não elimina, necessariamente, a outra.

Para exemplificar o aspecto dinâmico acima, basta relacionar, rapidamente, as danças que estiveram na moda ao longo deste século. Todavia, é preciso esclarecer, em primeiro lugar, que a divulgação e prática dessas danças ocorreu com maior ou menor intensidade e duração nos diferentes ambientes e nas diversas partes do país, além de terem recebido, com freqüência, adaptações locais.

No início do século XX, pelo menos durante as duas primeiras décadas, ainda predominavam aquelas danças originárias da Europa e que faziam sucesso nos salões do século anterior: valsa, mazurca, xote, polca, quadrilha, etc.. As danças brasileiras demoraram a penetrar nos salões de baile. O côco e o baião foram intensamente praticados, desde o século XIX, tendo o baião ganhado nova força, numa versão mais moderna, por volta de 1950. O samba urbano só apareceu em 1917 e o maxixe passou a ser praticado mais livremente durante os anos ’20, embora seu aparecimento fosse muito anterior (1884). O choro, como dança, projetou-se a partir de 1924.

Entre 1925 e 1950, aproximadamente, muitas danças de origem africana provenientes de outros países foram intensamente praticadas, entre elas o tango, vindo da Argentina e várias ligadas à primeira fase do jazz americano, como o ragtime, o cake walk, o shimmy, o fox, o charleston, o one step, o two step, só para citar as mais conhecidas. Após a Segunda Guerra Mundial, chegaram até nós o boogie-woogie, o swing, o rock-and-roll, o twist, decorrentes de uma segunda fase do jazz.

Outras danças, de diversas procedências, também fizeram sucesso entre os freqüentadores de bailes da primeira metade do século, como o pasodoble (espanhol), a habanera (espanhola, mas que nos chegou através de sua versão cubana), a ranchera (argentina), o bolero (que parece ter sido introduzido no Brasil na década de ’40), o calipso (surgido nas Antilhas), a rumba (de Cuba), o cha-cha-cha (versão mais moderna da rumba), o blues (variante do fox)…

Já na década de ’60, apareceram o huly-guly, o surfy e o iê-iê-iê, vindos dos Estados Unidos e que, dançados pelos pares separados e em grupos, foram os precursores da dança de discoteca, que dominou o gosto popular desde aquela época até recentemente, quando se assiste ao ressurgimento da dança de pares enlaçados e a um novo período de popularidade de ritmos antigos, entre eles o bolero e o tango.

Jussara Vieira Gomes
Historiadora e Antropóloga
Dançarina e Pesquisadora de Dança de Salão

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