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Vamos dançar um bolero?

Os ritmos mais dançados nos bailes cariocas da atualidade são: o bolero, o samba, o “soltinho” (que não é um ritmo, mas uma forma de se dançar alguns ritmos), bem como a salsa e o merengue, que andam na moda. Há também os bailes especiais, para os adeptos dos ritmos de forró, para os apreciadores de lambada e zouk, assim como para os que se dedicam ao tango, milonga e valsa dançada à maneira dos argentinos. É claro que estes ritmos também são dançados nos outros bailes, porém com pouca freqüência, na medida em que nem todos sabem dançá-los com a mesma desenvoltura dos ritmos citados em primeiro lugar e que são os mais populares entre nós. Há muito o que dizer a respeito de cada um deles.

No que diz respeito ao bolero, é uma dança de origem espanhola. Consta que seu nome deriva da palavra espanhola volero (de volar = voar) ou das bolinhas que eram usadas presas nos vestidos das dançarinas ciganas, que pareciam voar enquanto elas dançavam. Já no século X existia uma dança chamada bolero de algodre, de origem árabe, que era dançado em grupos de três pessoas – um rapaz e duas moças. Entretanto, parece não ter sido ele que deu origem ao bolero que nos interessa aqui. Este surgiu no final do século XVIII. Há autores que apontam o bailarino Zerezo como seu criador, em 1780. Veio do fandango, uma outra dança espanhola de origem árabe, muito popular, desde o século XVII e que também andou fazendo sucesso em terras brasileiras, nos séculos XVIII e XIX. O fandango era uma dança mais vigorosa, menos suave que o bolero e ainda é dançado, em versão bem modificada, em estados do sul do Brasil. O bolero, a princípio, era executado com acompanhamento de castanholas, violão e pandeiro, tal qual o fandango, enquanto o casal dançava sem se tocar, com sensuais movimentos de aproximação e afastamento.

Trazido pelos espanhóis para suas colônias na América, ele foi se modificando pelas influências locais e recebendo contribuições, em especial, de ritmos vindos da África. Sempre foi mantido, no entanto, seu caráter de dança de galanteio, suave, terna e romântica. Desenvolveu-se, principalmente, em Cuba e outros países da América Central.

Curiosamente, só no Brasil – em particular, no Rio de Janeiro – ele é dançado da forma que o conhecemos nos dias de hoje, com figurações muito diversificadas. Na maioria dos países latino-americanos, dança-se o bolero de forma simples e lenta, sem muitas variações. É aquele bolero dançado “dois pra lá, dois pra cá…”, como na letra da famosa música de João Bosco. Se perguntarmos a um cubano, a um costarriquenho ou a um argentino, por exemplo, a resposta será sempre a mesma, isto é, explicam que dançam o bolero dessa maneira porque ele serve para namorar, ele visa o romance. E era assim também, aqui no Brasil, até pouco tempo atrás.

Nos bailes cariocas atuais, os dançarinos fazem grande número de figuras ao dançar o bolero,muitas delas adaptadas de outros ritmos e costumam dançar do mesmo jeito, ou seja, com figuras de bolero, não só os boleros propriamente ditos, mas também outros ritmos suaves e românticos. Generaliza-se: se é ritmo lento, dança-se como se fosse um bolero. É uma característica bem brasileira, esta de buscar fazer uma simbiose e simplificar. É uma faceta da criatividade dos nossos dançarinos e professores de dança de salão (ou seria uma faceta da sua falta de informações sobre como dançar os diferentes ritmos lentos?). De qualquer forma, parafraseando Martinho da Vila, é bonito e é gostoso dançar bolero do jeito que dançamos hoje, mesmo que não seja mais tão romântico…

Jussara Vieira Gomes
Historiadora e Antropóloga
Dançarina e Pesquisadora de Dança de Salão

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